A miocardite é uma inflamação do músculo cardíaco, chamado miocárdio, que pode ocorrer devido a vários fatores, sendo a principal causa após uma infecção viral (Coxsackie, Echovirus, adenovírus, citomegalovírus, HIV etc). Outras causas incluem infecções bacterianas; secundária a infecção generalizada (septicemia); medicamentos (ciclofosfamida, antibióticos); sarcoidose; doença celíaca; toxinas; abuso de álcool ou drogas (cocaína, crack etc).
Em razão de sua grande variedade de apresentação clínica inicial, os números exatos da sua real incidência na população geral são desconhecidos. Estima-se que até 10% dos pacientes que desenvolvem insuficiência cardíaca inexplicada recente, esteja associado com miocardite prévia.
Além disso, estudos recentes demonstram a relação da miocardite como possível causa de morte súbita em adultos jovens com menos de 40 anos de idade. Dados recentes demonstram incidência de 8,6 a 12% entre os indivíduos que vieram falecer deste evento.
Normalmente nos casos de miocardite viral, as pessoas costumam referir um quadro infeccioso prévio (respiratório ou gastrointestinal), que pode variar de 10-30 dias na maioria dos casos (podendo se estender até 3 meses), o que reforça a suspeita e o diagnóstico dessa patologia.
A partir da pandemia do SARS-COV2 (covid-19), a incidência de miocardite aumentou consideravelmente. Estudos demonstram que muitos pacientes tem desenvolvido miocardite, principalmente os que são internados e evoluem de forma mais grave (com insuficiência respiratória e necessidade de intubação e ventilação mecânica). Estima-se que os números podem chegar a até 40% nesses pacientes mais graves.
Também o diagnóstico de miocardite aumentou naqueles pacientes que são acometidos pelo covid-19, evoluem bem mas que apresentam nos dias ou semanas subsequentes algum sinal ou sintoma de comprometimento cardíaco. Também esses devem ser monitorados e acompanhados de perto pelo cardiologista, sendo necessário tratar aqueles sintomáticos, com potencial risco de piora ou com alterações estruturais mais graves.
A apresentação clínica é bem variável, desde uma evolução assintomática até insuficiência cardíaca grave, choque cardiogênico ou morte súbita por uma arritmia maligna, por exemplo.
Com base nisso, os sintomas podem variar, podendo o paciente apresentar queixas de dor torácica, dispneia (falta de ar), batedeiras (indicando possível arritmia).
O diagnóstico pode ser feito através do ecocardiograma, que poderá mostrar alterações estruturais (na contratilidade) difusas ou segmentares e a extensão desse comprometimento. O eletrocardiograma pode detectar eventuais arritmias, isoladas, frequentes ou sustentadas. A cintilografia miocárdica também é uma opção interessante. O diagnóstico definitivo se faz pela biópsia endomiocárdica porém com o advento da ressonância cardíaca, hoje cada vez mais disponível, esta tem se tornado a melhor opção para confirmar o diagnóstico e a gravidade da doença, por ser não-invasiva e por mostrar alterações estruturais que muitas vezes não são visualizadas pelos outros exames.
O tratamento vai variar de acordo com o grau de comprometimento da doença, mais voltado para o tratamento das eventuais arritmias e da insuficiência cardíaca.
Felizmente, na maioria dos casos, o prognóstico da miocardite é bom, com regressão muitas vezes total ou quase total da doença, ficando em algumas situações uma “cicatriz” (fibrose) no músculo cardíaco, o que não compromete de um modo geral a qualidade de vida da pessoa. Deve-se manter o acompanhamento com o cardiologista e avaliar através de exames o retorno gradativo à prática de exercício físico regular.