Você sabia que preservar boas amizades pode ajudar a manter sua saúde mental? Por este motivo gostaria de refletir com vocês sobre o tema.
Dizem que amizade verdadeira existe quando se pode confiar de olhos fechados no outro. Os dicionários falam em simpatia e afeição para referir-se a amizade. Há também aqueles que definam amizade como a aproximação de pessoas com gostos semelhantes. Eu, porém, chamo a tudo isso de interesse. Todas estas definições falam de como eu ‘subjugo’ o outro a meus sentimentos e como a posição em que o coloco (e ele se permite ficar) em relação a meus interesses definem a amizade ou não-amizade.
Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, amizade é encontro de consciências. É o oposto da ‘coisificação’ do outro. Trata-se de algo mais profundo, porém, de igual modo mais simples que as definições sugeridas pelo google.
O encontro de consciências se dá quando eu reconheço o charme do outro. Este charme nada tem de sexual ou afetivo, mas é parte da singularidade existencial de cada pessoa (ser), como o ‘estilo’ de um artista.
Veja, minha mãe é designer. A arte corre em suas veias. Sempre pintou e desenhou até mesmo nas paredes da casa. Sempre fez arte de forma virtuosa, isto é, a arte por ela mesma, a arte com fim do fazer arte. Em dado momento, se deparou com a obra da pintora Beatriz Milhazes. Houve identificação imediata. Esta identificação com o estilo de outro artista nada mais é que um encontro de consciências.
Quando nos identificamos com o estilo de um artista, nossa consciência se aproxima da dele, e é exatamente o que acontece entre pessoas fora do universo da arte. Deste modo, quando encontro uma pessoa que reconhece o meu charme e eu o dela, nasce uma amizade.
Em uma amizade não há necessidade alguma de concordância para gostos de alimentação, estilo de roupas ou posições políticas. Isso tudo é irrelevante. O que caracteriza a amizade verdadeira é a sintonia entre as consciências. Pelo olhar do outro, já sei o que esperar. Pelo timbre de sua voz, sei o sentimento que está transmitindo.
Para que tenhamos amigos verdadeiros precisamos romper com o vício da coisificação do outro. Só então estaremos aptos e abertos para o encontro de consciências, que pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, com qualquer pessoa.