Diferentemente do que as pessoas imaginam, não há somente uma forma de depressão. Existem múltiplos fatores que podem conduzir a um quadro depressivo, e existem quadros depressivos bem distintos um do outro. Sendo específico, podemos dizer que a depressão possui quatro faces.
Uma das formas de depressão é haver algo de errado no cérebro da pessoa, um problema genético que altera a produção de neurotransmissores levando a uma liberação não condizente com os padrões toleráveis para estas funções cerebrais. Neste caso, há uma interferência no funcionamento do cérebro e, portanto, é patológico. Ou seja, é uma doença física. Os sintomas depressivos que são percebidos têm origem no próprio corpo da pessoa.
Uma segunda forma de depressão é causada por um estado cerebral induzido, ou seja, é biológico, mas não genético. Poderia ser resultado do abuso de substâncias, isto é, o efeito colateral de anfetaminas ou de um depressivo como o álcool. Este é um tipo de depressão mais complexa que a primeira porque implica em dependência física ou psíquica, e o estado patológico de funcionamento cerebral não acompanha este corpo desde seu nascimento, mas fora gerado ao longo da vida. De igual modo, porém, os sintomas se originam no próprio corpo do depressivo.
Outra causa típica de depressão é o trauma infantil não resolvido ou outro problema no passado. Esta é uma visão distintamente freudiana (e geralmente aceita) e trata-se de um problema psicológico, e não psiquiátrico/psicopatológico. Neste caso, a depressão não se origina no corpo da pessoa, mas tão somente em sua mente. Ela pode causar reflexos no corpo, mas não se originou dele.
O quarto tipo de depressão resulta de algo grave que acontece na vida atual da pessoa. Pode ser uma crise profissional, um problema pessoal ou financeiro iminente, como divórcio ou falência, ou um dilema moral ou ético. Aqui não há, absolutamente, nada físico ou psicológico provocando a depressão; química cerebral, abuso de substâncias e trauma infantil não são ‘culpados’. De modo semelhante ao do quadro anterior, a origem desta depressão é tão somente psíquica.
Nos dois primeiros exemplos, a pessoa precisa de atenção psiquiátrica. Um medicamento certamente irá controlar os sintomas. No entanto, medicamentos não são capazes de curar o problema subjacente, e por este motivo a terapia falada ainda é indicada. Veja, as drogas não podem fazer nada no mundo exterior – mesmo com o humor abrandado pelo Rivotril ou Citalopram, você continuará tendo de lidar com um patrão sádico ou um parceiro trapaceiro ou um banco burocrático. As respostas não estão – e nunca estarão – em um frasco de comprimidos.
Nos dois últimos exemplos, por outro lado, psicologia e filosofia são mais adequadas e recomendadas, e podem auxiliar o depressivo no caminho que só ele pode percorrer em direção à cura. A psicologia, apesar das múltiplas abordagens, tende a orienta-lo na desconstrução das situações, direcionando-o para um novo olhar, a partir de algo reconstruído. A Filosofia, por sua vez, apesar também de seus múltiplos sistemas e teorias, buscará leva-lo a um estado de ser-no-mundo em que os fenômenos são vistos e vividos através de uma nova maneira de relacionar-se com sua própria vontade.
No caso de depressivos medicados, existe um fenômeno que é o abandono da medicação – mesmo quando a acham útil. Uma das razões para que tantos pacientes apresentem este comportamento é que, de alguma maneira, não se sentem sendo eles próprios enquanto estão tomando os remédios. Isso atinge o cerne da questão filosófica mais fundamental: “Quem sou eu?”
Talvez o depressivo precise redescobrir a si mesmo quando está tomando medicamentos. E se este for o caso, isto leva a perguntas como “O que me faz ser eu?” “Por que sou – se realmente sou – separado do meu corpo físico?”
“O carpinteiro molda a madeira; os arqueiros moldam flechas; o sábio molda a si mesmo”
– Buda
Alguns quadros depressivos necessitam de auxílio psiquiátrico, outros não. No entanto, todos eles precisam de sabedoria. Ninguém vence a depressão se não descobrir a capacidade – anunciada há mais de 20 séculos – de moldar a si mesmo. A psicoterapia é a ferramenta atual mais adequada para guiar o depressivo nesta caminhada.