O nível de estresse emocional tem atingido número significativo de pessoas neste período de pandemia pelo covid-19. Esta labilidade emocional tem se manifestado sob a forma de repercussões digestivas , cutâneas , cardíacas e, destacadamente, insônia. Embora a pandemia pelo covid-19 ainda esteja ativa, começamos a identificar outro tipo de pandemia que está se sobrepondo - a pandemia da insônia e da sobrecarga cardíaca.
O sono noturno representa o período de descanso de nosso cérebro, em conjunto com o arrefecimento natural de nossas funções orgânicas. Durante a madrugada, nosso metabolismo diminui, as reações químicas orgânicas são mais lentas e, como consequência, alguns sinais vitais , como a pressão arterial e a frequência cardíaca, estabilizam-se em níveis mais baixos.
A observação da frequência cardíaca, durante o período do sono noturno, representa um dos parâmetros mais fidedignos no que tange a redução fisiológica do metabolismo corpóreo. Para exemplificar, uma pessoa saudável, com boas condições gerais , apresenta ao repouso, durante o dia, batimentos cardíacos variando de 60 a 80. Esta mesma pessoa, durante o período de sono noturno, apresentará batimentos cardíacos variando entre 40 e 45, sem nenhuma repercussão ou sintoma associado.
Como já assinalado, a pandemia do covid-19 tem acarretado diversas modificações no ritmo biológico de nosso corpo
. A insônia tem acometido grande quantidade de pessoas neste momento difícil do Brasil e do mundo. As pessoas não têm conseguido desvincular-se da tensão diurna, das preocupações financeiras, do temor de uma eventual contaminação, e isto se traduz em horas irregulares de sono, horas insuficientes e sobressaltadas.
Da mesma forma que nosso cérebro precisa de descanso e o sono tem a função de prover este relaxamento, o coração humano requer período de 6 a 8 horas para se recuperar do trabalho intenso diurno e recarregar suas energias. Neste período de 6 a 8 horas de sono noturno, desde que haja tranquilidade no sono, o coração humano recarrega suas energias , trabalhando com níveis de pressão arterial e frequência cardíaca mais baixos.
Quando uma pessoa enfrenta muitas noites de insônia, os níveis de pressão arterial e de frequência cardíaca permanecem compatíveis com o período diurno ou até mesmo atingem patamares mais elevados, gerando sobrecarga global do coração.
Muitos dias ou até meses de insônia desencadeiam alterações na estrutura e na função cardíaca. Do ponto de vista estrutural, ocorre aumento do tamanho do coração e muito frequentemente hipertrofia do miocárdio. Como resultado desta nova conformação estrutural, aumenta a chance de ocorre arritmia cardíaca e disfunção de valvas cardíacas, além do risco aumentado para infarto do coração , derrame cerebral e insuficiência cardíaca.
Da mesma forma que estamos adotando medidas de prevenção e restrição para evitar a contaminação pelo covid-19, temos de criar um protocolo de condutas para garantir a qualidade do sono noturno e, dessa forma , preservar nossa saúde cardiovascular.
Para isto, devemos começar por medidas não farmacológicas, como dar preferência aos alimentos de fácil digestão e bebidas naturais no período noturno, evitando excesso de bebidas com cafeína , bebidas alcoólicas e bebidas gasosas. Sopas em geral e alimentos pastosos devem ser mais empregados nas refeições noturnas . Também recomenda-se não dedicar as horas noturnas aos filmes de terror e muita tensão , dando preferência as músicas mais leves e bons livros .
Não sendo suficientes as medidas não farmacológicas, deve -se, sob supervisão médica, utilizar medicamentos que possam reordenar o sono noturno e, indiretamente, permitir que nosso coração possa recarregar efetivamente suas energias, evitando crises hipertensivas e arritmias cardíacas durante a madrugada.
Umas das “vacinas” para a pandemia da insônia e da sobrecarga cardíaca, em tempos de covid-19, é modificar os hábitos alimentares e comportamentais, visando obter horas de sono noturno reparador e revitalizador. Todos nós precisamos estar atentos a esta demanda para, assim, evitar problemas cardiovasculares futuros.