Há quase 100 anos, em 1921, o jovem cirurgião Frederick Banting e seu assistente Charles Best conseguiram pela primeira vez remover extrato de insulina de um pâncreas de cão e posteriormente tratar outro cão portador de diabetes com injeções deste extrato.
Até esta época a vida de pacientes com diabetes era curta e muito difícil. O tratamento consistia em enormes restrições alimentares e eventualmente pessoas que não morriam do diabetes, morriam de inanição.
As pesquisas começaram em 1889, quando cientistas descobriram que cães que tinham o pâncreas removido desenvolviam diabetes. Com o avanço das pesquisas da época, descobriram que a doença era causada pela falta de uma substância produzida pelo órgão, em agrupados de células chamados de ilhotas de Langerhans, que foi chamada de insulina (de ínsula, que significa ilha).
Apenas um ano após a descoberta de Banting e Best, Leonard Thompson de 14 anos recebia a primeira injeção de insulina e deixava de morrer devido a uma forma grave de diabetes. O grande impacto deste avanço rendeu, em 1923, o Prêmio Nobel de Medicina para os cientistas que desenvolveram e purificaram o extrato de insulina.
Desde então grandes avanços tecnológicos foram alcançados. Nos anos 30, insulinas com ação mais prolongada foram desenvolvidas com adição de zinco e protamina, que evoluíram até a atual insulina NPH, levando à maior estabilidade nos níveis de glicose e, em 1978, foi produzida pela primeira vez insulina humana feita através de DNA recombinante. Nesta técnica de engenharia genética, o gene da insulina é introduzido dentro de bactérias que passam a produzir insulina idêntica a produzida pelo pâncreas humano. Os avanços continuaram, na década de 90 até os dias de hoje, com manipulações da própria molécula, com a criação das insulinas ultra rápidas e as basais, que podem mimetizar um perfil de secreção de insulina mais próximo do fisiológico, reduzindo assim o risco de hipoglicemias e reduzindo a variabilidade dos níveis de glicose. O próximo passo para o futuro são as insulinas inteligentes, que uma vez injetadas em forma inativa, tornam-se ativas e passam a funcionar somente à medida que os níveis de glicose aumentam, reduzindo assim ainda mais os riscos de hipoglicemia.
Outra tecnologia a serviço dos pacientes com diabetes é a possibilidade de rapidamente medir os níveis de glicemia, atingindo de forma mais adequada às metas de controle, reduzindo assim os riscos das complicações crônicas da doença. Esta história começa em 1908 com Benedict, que desenvolveu uma forma de estimar a quantidade de glicose em urina. Este teste, com algumas pequenas modificações, foi usado por mais de 50 anos para auxiliar o controle do diabetes e consistia em adicionar um reagente à urina e depois ferver a mistura. De lá para cá, muita coisa mudou com o desenvolvimento de monitores cada vez mais precisos que avaliam a glicose no sangue e, mais recentemente, de sensores sob a pele que medem de forma contínua a glicose, sem a necessidade frequente de picadas nos dedos, permitindo que a qualquer momento com um monitor e até seu celular você possa avaliar como está sua glicose. Os próximos avanços em pesquisa nesta área vão desde pequenos adesivos, chips implantados e até tatuagens que podem transmitir os dados da sua glicose diretamente para seu monitor ou smartphone, em qualquer lugar, a qualquer hora.
Os sistemas de infusão contínua de insulina também já são uma realidade. Os primeiros, com tamanho de mochilas, na década de 70, foram abandonados por aparelhos do tamanho de um pequeno celular, e foram se tornando mais acessíveis no final de década de 90 e no início deste século, trazendo mais comodidade e aumentando de forma significativa o tempo de manutenção da glicose dentro do alvo.
Hoje já existem bombas de insulina que são acopladas a monitores contínuos de glicose e as tornam cada vez mais inteligentes, com capacidade de interromper, sem interferência do usuário, a infusão da insulina quando a glicose está muito baixa ou até controlar a quantidade de insulina a ser infundida automaticamente quando a glicose está alta, chegando cada vez mais perto do desenvolvimento de um verdadeiro pâncreas artificial.
Outros mecanismos também ajudam quem controla a glicose com injeções, como as canetas de insulina, que têm se desenvolvido com o tempo, tornando-se mais leves e descartáveis. Mais recentemente estas também estão tornando-se inteligentes e, em breve, poderão calcular automaticamente a dose de insulina a ser aplicada, conectando-se ao seu monitor de glicose. Outras características inteligentes vão desde displays na própria caneta, que indicam a quantidade de insulina que ainda está em atividade após a última aplicação, até sensores que monitoram a temperatura da insulina de forma contínua, evitando que haja degradação da medicação.
O futuro está cada vez mais perto e trazendo cada vez mais inovação com mais comodidade, melhor controle e menos complicações do diabetes.